Dom Orani João Tempesta, OCist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro
No
primeiro domingo deste mês vocacional rezamos pelos nossos padres. No
segundo, agradecemos a vida e o dom da paternidade, colocando nossos
pais, vivos e os que estão na glória de Deus, diante do altar. O
terceiro domingo foi dedicado a todos os consagrados: freiras, freis,
irmãos e irmãs que dão a sua vida pelo Evangelho na contemplação ou na
ação pastoral, segundo os conselhos evangélicos. A vida consagrada é um
desdobramento da vida batismal, na esteira dos Conselhos Evangélicos da
pobreza, da obediência e da castidade.
Toda a nossa existência de fiéis
cristãos deveria ter como destaque a nossa vida batismal, pois nela
somos incorporados a Cristo, nela somos libertos do pecado e assim
regenerados pelo Espirito Santo. Nela nos tornamos participantes da vida
trinitária. Portanto, a nossa consagração começa no batismo, pois este é
fonte de responsabilidade e de deveres, tal como servir aos outros na
comunhão da Igreja.
A vida consagrada em que se
professa os três votos mencionados é uma resposta a esta consagração
batismal dentro de um chamado a um carisma especial na Igreja. É uma
resposta radical ao extraordinário amor de Deus sobre nossas vidas. É um
ir além, numa vida comprometida com a implantaçaõ do Reino de Deus
entre os homens e entre as mulheres.
O
cristão sempre é chamado a jogar suas redes em águas mais profundas, ao
se provocar pelo estímulo a uma nova vida, mais radicalizada e mais
enrraizada em Deus. Corre-se o risco para Deus, e descobre-se que só
Deus basta para nossa vida.
No processo da consagração
ouve-se a voz de Deus que chama. A Igreja reconhece este chamado e o
autentica ao autorizar a existência dos Institutos de Vida Consagrada,
que tanto bem fizeram e fazem ao Povo de Deus e a toda população,
através da entrega da própria vida pelo irmão, e, além dos vários
serviços de missão, evangelização, catequese, também nos diversos
organismos de caridade, educacionais, do cuidado com a saúde, no desvelo
com a terceira idade e de promoçao humana existentes.
Deus chama homens e mulheres,
através da vida consagrada, para um missão de amor em favor dos homens,
e, principalmente, pelos preferidos: os pobres.
A riqueza da Igreja, já nos
dizia o mártir São Lourenço, celebrado nesta semana, não está nos seus
edifícios que são do Povo de Deus ou no propalado, cobiçado e imaginado
poder financeiro, mas nos pobres, nos que sofrem, nos que a Igreja
acolhe, educa, cuida e apresenta como o seu inexorável tesouro que
jamais a traça comerá.
Os religiosos e congrados são um
dom precioso da Igreja e do mundo, este tão carente, tão sedento de
Deus e de sua palavra, mas também de testemunhos.
Porém, antes mesmo do serviço
que os religiosos prestam às pessoas, a sua mais importante missão é o
"ser", quer dizer, o testemunho de vida em comunidade, doada diariamente
com alegria e generosidade. São os "sinais escatológicos" do Reino de
Deus. Nestes últimos tempos, ao lado de antigas tradições de consagrados
juntaram-se muitas outras novas experiências de grupos de pessoas que
atualizam dentro das atuais realidades e, muitas vezes, como sinais de
contradição: o chamado de Deus para essa consagração radical. Dentro dos
vários estilos de carismas encontramos o equilíbrio entre a vida de
ação e contemplação, de oração, de trabalho – presentes em cada pessoa,
em cada instituto e na própria estrutura eclesial.
No mundo do descartável, do
prazer sem limites, na opulência do dinheiro e do ter, da
autossuficiência, sentimo-nos atraídos, através da vida consagrada, a
uma outra proposta de seguimento mais sublime de Jesus Cristo através da
dedicação a Deus pelos conselhos evangélicos e, desta forma, são um
doce e eloquente sinal de Deus neste mundo.
No
dia de oração pela Vocação à Vida Religiosa quis enviar um afetuoso
abraço de encorajamento na sua vocação e na sua missão a todos os
consagrados que trabalham no âmbito de nossa Arquidiocese, que fazem a
diferença do rosto de Cristo e da Igreja no Rio de Janeiro. Agradecemos a
Deus por nos proporcionar tantas vocações na vida consagrada, e
pedimos-Lhe que estes continuem a ser um sinal de graça perene no mundo,
na construção da justiça e do amor.
Por isso, agradecidos a Deus
pela vocação consagrada, peçamos novas e autênticas vocações para este
serviço e que a Trindade ilumine todos os que continuam dando passos
para que o Reino de Justiça e de Paz se estabeleça entre nós pelo
testemunho dos que deixam tudo para trás, por amor, para ser totalmente
de Jesus e da Igreja. Que Deus guarde, abençoe e proteja os consagrados!
Fonte: http://www.reflexoesfranciscanas.com.br/2010/08/vida-consagrada.html
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