sexta-feira, 29 de novembro de 2013

A Patrística Pré-agostiniana

 Características Gerais

fonte: http://www.itf.org.br/a-patristica-pre-agostiniana-2.html

 
Com o nome de patrística entende-se o período do pensamento cristão que se seguiu à época neotestamentária, e chega até ao começo da Escolástica: isto é, os séculos II-VIII da era vulgar. Este período da cultura cristã é designado com o nome de Patrística, porquanto representa o pensamento dos Padres da Igreja, que são os construtores da teologia católica, guias, mestres da doutrina cristã. Portanto, se a Patrística interessa sumamente à história do dogma, interessa assaz menos à história, em que terá importância fundamental a Escolástica.
A Patrística é contemporânea do último período do pensamento grego, o período religioso, com o qual tem fecundo contato, entretanto dele diferenciado-se profundamente, sobretudo como o teísmo se diferencia do panteísmo. E é também contemporâneo do império romano, com o qual também polemiza, e que terminará por se cristianizar depois de Constantino. Dada a culminante grandeza deAgostinho, a Patrística será dividida em três períodos: antes de Agostinho, período em que, filosoficamente, interessam especialmente os chamados apologistas e os padres alexandrinos ; Agostinho, que merece um desenvolvimento à parte, visto ser o maior dos Padres; depois de Agostinho vem o período que, logo após a sistematização, representa a decadência da Patrística.

O II Século

Os Apologistas e os Controvertistas

A Patrística do II século é caracterizada pela defesa que faz do cristianismo contra o paganismo, o hebraísmo e as heresias. Os padres deste período podem-se dividir em três grupos: os chamados padres apostólicos , os apologistas e os controversistas . Interessam-nos particularmente os segundos, pela defesa racional do cristianismo contra o paganismo; ao passo que os primeiros e os últimos têm uma importância religiosa, dogmática, no âmbito do próprio cristianismo.
Chamam-se apostólicos os escritos não canônicos, que nos legaram as duas primeiras gerações cristãs, desde o fim do primeiro século até a metade do segundo. Seus autores, quando conhecidos, recebem o apelido de padres apostólicos, porquanto floresceram no templo dos Apóstolos, ou os conheceram diretamente, ou foram discípulos imediatos deles.
Costuma-se designar como o nome de apologistas os escritores cristãos dos fins do segundo século, que procuram de um lado demonstrar a inocência dos cristãos para obter em favor deles a tolerância das autoridades públicas; e provar do outro lado o valor da religião cristã para lhe granjear discípulos. Seus escritos, portanto, são, por vezes, apologias propriamente ditas, por vezes, obras de controvérsia, às vezes, teses. E são dirigidas às vezes contra os pagãos, outras vezes contra os hebreus. Os apologistas, mais cultos do que os padres apostólicos, freqüentemente são filósofos – por exemplo, São Justino Mártir – ainda que não apresentem uma unidade sistemática; continuam filósofos também depois da conversão, e se esforçam por defender a fé mediante a filosofia. Para bem compreendê-lo, é mister lembrar que o escopo por eles visado era, sobretudo, por em focos os pontos de contato existentes entre o cristianismo e a razão, entre o cristianismo e a filosofia. E apresentavam o cristianismo como uma sabedoria, aliás, como a sabedoria mais perfeita, para levarem, gradualmente, até à conversão os pagãos.
O maior dos apologistas é certamente São Justino. Flávio Justino Mártir nasceu em Siquém na Palestina em princípios do segundo século, e morreu mártir no ano 170. Depois de Ter peregrinado pelas mais diversas escolas filosóficas - peripatética, estóica, pitagórica – em busca da verdade para a solução do problema da vida, abandonando oplatonismo, último estádio da sua peregrinação filosófica, entrou no cristianismo, onde encontrou a paz. Ufana-se ele de ser filósofo e cristão; leigo embora, Justino dedicou sua vida à difusão e ao ensino do cristianismo. Imitando os filósofos, abriu em Roma uma escola para o ensino da doutrina cristã. Suas obras são duas Apologias - contra os pagãos – e um Diálogo com o judeu Trifão - contra os hebreus. Escreveu suas obras nos meados do segundo século.
Justino procura a unidade, a conciliação entre paganismo e cristianismo, entre filosofia e revelação. E julga achá-la, primeiro, na crença de que os filósofos clássicos – especialmente Platão - dependem de Moisés e dos profetas, depois da doutrina famosa dos germes do Verbo, encarnado pessoalmente em Cristo, mas difundidos mais ou menos em todos os filósofos antigos.

O III Século:

Os Alexandrinos e os Africanos

O terceiro século apresenta um interesse particular pelo que diz respeito ao pensamento cristão. Tentou-se um renovamento do paganismo com bases no panteísmo neoplatônico e nos cultos orientais, fundidos numa característica síntese filosófico-religiosa em oposição ao cristianismo, que já ia afirmando mesmo culturalmente. Os Padres deste período polemizam filosoficamente com os pensadores pagãos, levados a estimarem seus adversários.
O cristianismo, sem mudar a sua fisionomia original, está em condições de desenvolver do seu seio um pensamento, uma filosofia, uma teologia, que representarão a sua essência doutrinal. Daí a distinção que então se afirmou entre os simples fiéis e os gnósticos - sábios – cristãos. Este gnosticismo cristão se afirmou especialmente em Alexandria do Egito, o grande centro cultural da época, mesmo do ponto de vista católico. Naquele famoso didascaléion , naquela celebrizada escola catequética, espécie de faculdade teológica, foram luminares Clemente e Orígenes.
O cristianismo filosófico é próprio e característico dos padres alexandrinos, que vivem na tradição cultural helenista, enaltecedora e potenciadora dos valores intelectuais, teoréticos, especulativos, metafísicos, dos quais teremos, em tempo oportuno, o primeiro sistema orgânico de teologia cristã, graças a Orígenes. É, entretanto, hostilizado pelos padres chamados africanos, pertencentes não à África oriental, ao Egito, mas África ocidental, latina, que se ressentem, por conseguinte, do espírito prático, pragmatista, jurídico, moralista latino – que produziu os estóicos e os cínicos romanos – em oposição ao gênio grego. Se bem que entres os padres africano-latinos apareçam vulto notáveis, como por exemplo Tertuliano, os padres africanos – bem como os padres latinos em geral – não apresentam interesse particular para a história da filosofia.
Clemente Alexandrino - Tito Flávio Clemente – nasceu no ano 150, provavelmente em Atenas, de família pagã. Converteu-se ao cristianismo talvez levado por exigências filosóficas; desejoso de um conhecimento mais profundo do cristianismo, empreendeu uma série de viagens em busca de mestres cristãos. Depois de ter visitado a Magna Grécia, a Síria e a Palestina, foi, pelo ano 180, para Alexandria do Egito, onde o seu espírito achou finalmente paz junto do eminente mestre Panteno. Falecido este no ano 200, Clemente foi chamado para dirigir a famosa escola catequética, cabendo-lhe a glória de ter o grande Orígines entre seus discípulos. Devido às perseguições anticristãs do imperador Setímio Severo, que mandou fechar a escola, Clemente teve de suspender o seu ensino alguns anos depois. Retirou-se para a Ásia Menor, junto de um seu antigo discípulo, o bispo Alexandre de Capadócia, e morreu nessa cidade entre 211 e 216.
Embora as preocupações de Clemente sejam sobretudo morais e pedagógicas, e os meios empregados, satisfatoriamente, religiosos e cristãos sobretudo, valoriza ele também, e grandemente, a filosofia, à maneira de Justino, sendo ademais dotado de uma erudição prodigiosa e de uma cultura incomparável. As obras principais de Clemente são: o Protréptico - isto é, o Verbo promotor da vida cristã – pequena apologia em doze capítulos, perfeitamente acabada na forma e no conteúdo; o Pedagogo , em três livros, apresentado no primeiro o Verbo como educador das almas, e indicando nos demais dois livros os vícios mais graves, que os cristãos devem evitar; os Strômata - tapetes – que é uma coleção de pensamentos, considerações, dissertações filosóficas, morais e religiosas, de interesse especialmente ético.
Filosoficamente importante e característica é a distinção que faz Clemente dos cristãos em simples fiéis e gnósticos , isto é, sábios, perfeitos. O gnóstico cristão, diversamente do simples fiel ou crente, é consciente de sua fé, justificando-a e organizando-a racionalmente, filosoficamente. “Querendo harmonizar a doutrina cristã com a filosofia pagã, acentuava demasiadamente a última, negligenciando um tanto a Sagrada Escritura e a Tradição”.
Discípulo de Clemente, Orígenes, chamado adamantino por sua energia incomparável, é o maior expoente filosófico da escola alexandrina. Nasceu em Alexandria do Egito, pelo ano 185, de família cristã. O precoce menino recebeu do pai, Leônidas, a primeira formação literária e, sobretudo, religiosa. Durante a perseguição de Septímio Severo, Orígenes, desprezando os mais graves perigos, foi encarregado pelo bispo de Alexandria, Demétrio, da direção da famosa escola didascaléion , que o seu mestre Clemente teve que abandonar. Tinha então Orígenes dezoito anos. Aos vinte e cinco, sentindo a necessidade de conhecer profundamente as doutrinas que desejava combater e querendo completar a sua formação, escutou – como Plotino - as lições de Amônio Saca. Empreendeu então longas viagens para se instruir, sobretudo, religiosamente, e para atender aos desejos de grandes personagens que queriam consultá-lo. Ordenado sacerdote no ano 230 pelos bispos de Cesaréia e de Jerusalém, contra a vontade de seu bispo, de volta à pátria, foi proibido por este de ensinar e foi condenado, devido também a algumas opiniões heterodoxas contidas na sua grande obra Sobre os Princípios , e também por ciúme, talvez, no dizer de São Jerônimo. Retirou-se então Orígenes para a Palestina, abrindo em Cesaréia uma escola teológica ( chamada depois neo-alexandrina – , que superou a de Alexandria pelo seu caráter científico. Aí lecionou ainda durante vinte anos, falecendo em Tiro pelo ano 254.
A atividade literária de Orígenes não conhece igual, atribuindo-se-lhe milhares de obras. Prescindindo dos escritos exegéticos e as céticos, que não nos interessam, mencionamos a obra Sobre os Princípios e os oito livros Contra Celso . Por princípios Orígenes entende os artigos principais do ensino da Igreja, e as verdades primordiais deduzidas mediante a razão teológica das premissas reveladas, por falta de revelação formal. A obra Sobre os Princípios nos proporciona a ciência baseada na Revelação, e representa uma suma teológica verdadeira e própria. Representa, talvez, a primeira grande síntese doutrinal da Igreja, segundo a tendência metafísica dos doutores orientais. Granjeou ao autor grande nomeada e contém o origenismo , que depois suscitou a grande polêmica origenista. A obra Contra Celso é a mais célebre de Orígenes sob o aspecto apologético. É uma resposta à obra Sermão Verdadeiro de Celso, filósofo pagão. Antes de tudo, declara Orígenes que a melhor apologia do cristianismo é constituída pela vitalidade divina da Igreja, isto é, pela sua força e virtude para a reforma moral dos homens e pela sua difusão universal, apesar dos ataques dos adversários. A maior parte do escrito é, todavia, dedicada ao exame atento e pormenorizado das profecias, dos milagres e das afirmações solenes de Cristo, visto que Celso, que tinha estudado as fontes do cristianismo, o ataca em todos os pontos. Nesta obra, Orígenes ostenta uma erudição extraordinária, uma serenidade nobre e inigualável, bem como uma fé inabalável. Orígenes pode ser considerado o verdadeiro fundador da teologia científica, bem como o primeiro sistematizador do pensamento cristão em uma vasta síntese filosófica.

O IV Século:

Os Luminares de Capadócia

O século quarto, especialmente a Segunda metade, representa a idade de ouro da Patrística. Basta lembrar, para a igreja oriental, Atanásio, o malho do arianismo, os luminares de Capadócia – Basílio, Gregório Nazianzeno e Gregório de Nissa – , e João Crisóstomo, o mais celebrado representante da escola de Antioquia; para a igreja ocidental, Ambrósio de Milão e Jerônimo. Os padres dessa época se exprimem em aprimorada forma clássica e possuem uma profunda cultura filosófica. Os maiores dentre eles são solidamente formados na solidão monástica e ascética e pertencem, geralmente, às altas classes sociais. A igreja católica, declarada livre pelo Edito de Milão, protegida por Constantino, torna-se religião do estado com Teodósio. Estas condições de paz e de privilégio, eram certamente favoráveis à cultura cristã.
Entretanto, a grandeza da Patrística, no quarto século, não é tanto científica, quanto dogmática, teológica. A teologia, sobretudo graças aos luminares de Capadócia, torna-se uma construção intelectual sistemática, imponente, devido naturalmente à filosofia, à lógica aristotélica, que proporcionam o instrumento, o método, para a precisão e a organização do dogma. As grandes heresias da época obrigaram os padres a defender racionalmente, filosoficamente, a doutrina católica, atacada especialmente por Ário (256-336), padre alexandrino oriundo da Líbia, negador da divindade do Verbo. A heresia ariana – arianismo – foi condenada pelo concílio de Nicéia (325), sendo Atanásio o mais destacado e forte opositor.
São João Crisóstomo, de Antioquia, nasceu de família ilustre, pelo ano 344. Recebeu uma educação clássica aprimorada, estudando retórica, filosofia, direito, que, depois de batizado, valorizou cristãmente na solidão e no ascetismo. Padre em Antioquia, e depois bispo de Constantinopla, faleceu, degredado pela fé, em 407. É significativo neste grande prelado o senso profundo da vaidade do mundo, e a grande estima do cristianismo, concebido como ascética.
Também os grandes representantes da escola neo-alexandrina, os luminares de Capadócia, foram grandes testemunhas do caráter fundamentalmente ascético do Cristianismo. São Basílio, nascido em Cesaréia de Capadócia pelo ano de 330 de família rica e cristã, fez longos e aprofundados estudos, aperfeiçoando-se em Atenas. Recebido o batismo, abandona o mundo e se retira para a vida ascética, organizando a vida solitária dos que o seguiram, e escrevendo uma Grande Regra e uma Pequena Regra , para a vida monástica, em que a atividade dos monges é distribuída entre o trabalho, o estudo, a oração, pelo que será considerado o legislador do monaquismo oriental. Trata-se, porém, de regras morais, e não jurídicas, destinadas a um monaquismo culto, aristocrático. Grande admirador de Orígenes, insigne promotor da beneficência cristã quando bispo de Cesaréia, e organizador da vida monástica na Capadócia, faleceu em 379. Também São Gregório, chamado Nizianzeno, nasceu pelo ano 330 em Capadócia, de família cristã, fez estudos aprofundados, que aperfeiçoou em Atenas. Também ele admirou e praticou a vida ascética com o amigo Basílio, compartilhando com ele a admiração para com Orígenes. Bispo de Sásima antes e, em seguida, de Constantinopla, inflamou os fiéis com a sua pregação brilhante e comovedora. Aristocrático e delicado, pouco afeito à vida prática, retirou-se depois para a solidão, em conformidade com o seu ideal ascético e contemplativo, falecendo pelo ano 390.
São Gregório de Nissa foi o maior dos luminares de Capadócia e, talvez, de todos os padres gregos sob o aspecto especulativo e filosófico. Irmão de Basílio, nasceu pelo ano 355 em Cesaréia e recebida uma informação cultural aprimorada, foi destinado ao estado eclesiástico; entretanto, deixou-se desviar da sua vocação, foi professor de retórica e casou-se. As exortações do irmão e de Gregório Nazianzeno persuadiram-no da vaidade do mundo, até que afinal, abandonando a cátedra de retórica, retirou-se para a vida ascética contemplativa. Em seguida, foi feito bispo de Nissa, cidadezinha da Capadócia, primando pela sua cultura teológica e filosófica. Faleceu, provavelmente, em 395. Gregório de Nissa é o maior filósofo dos padres gregos. Esforça-se para mostrar que os dados da razão e os ensinamentos da fé não se hostilizam, mas se harmonizam reciprocamente. Possui, como verdadeiro filósofo, o gosto das definições claras e das classificações metódicas. Como em teologia é origenista, em filosofia é neoplatônico.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

El liderazgo carismático de la misión

Escrito por José Cristo Rey G. Paredes. 
fonte: http://www.vidareligiosa.es

La función más importante de quien ha sido elegido director o directora de una comunidad religiosa (superior o superiora)  es la de dirigir, acompañar la misión carismática de la comunidad o del grupo. No solo se tiene la gravísima responsabilidad de velar por la vivencia del carisma, también por su expresión dinámica y misionera.
La misión es la razón de ser de una comunidad, porque es la razón de ser de la Iglesia. La misión no es una simple tarea humana. Es participar en la “missio Dei”, en la misión del Espíritu que actúa en nuestra historia y lleva adelante el proyecto del Abbá y de Jesús, el Señor.
Quien dirige la comunidad cristiana o religiosa ha de velar para que todos los dinamismos personales y comunitarias de colaboración con el Espíritu Santo estén siempre activados. Cuando una comunidad se convierte en grupo de trabajadores, o de empleados, está perdiendo su identidad carismática. Está siendo sometida a una mutación que le hace perder el buen espíritu. Quien dirige una comunidad ¡no debe permitirlo!
Una comunidad en misión necesita “visión”. Si no será una comunidad que “a ciegas”. No se trata de “hacer”, de “trabajar”, de llenar los horarios”. Se trata de saber “porqué”, “para qué”, “desde dónde”, “hacia qué”. La conciencia de misión y la visión son presupuestos fundamentales para que una comunidad responda a su carisma y misión.

La misión requiere visión y proyecto. No se improvisa de un momento a otro. Pero tampoco se confunde con un trabajo estable, con un empleo permanente que tiene ocupada a una persona durante un determinado tiempo. La misión depende de lo que Dios nos confía en cada momento, en cada situación, en respuesta a lo que nuestros hermanos y hermanas, los seres humanos, necesitan.
La misión nos vuelve instrumentos vivos de Dios-Amor, del Abbá que atiende a sus hijos e hijas, de Jesús que proclama el Reino, construye comunidades y sana, del Espíritu Santo que derrama el amor, la verdad y la luz, por doquier. Un instrumento viviente y libre -como somos nosotros- ha de estar muy atento a aquello que quiere el que “le envía”. De alguna forma, ha de desapropiarse del propio querer y dejarse llevar.
En nuestras comunidades ésta debería ser la gran preocupación: ¿qué puede hacer Dios a través de nosotros con aquello que ahora está ocurriendo? Necesitamos dirigir una mirada atenta y sensible a nuestro Dios y otra hacia las necesidades y urgencias de nuestro entorno, utilizando esa peculiar “lente” que es nuestro carisma.
Quienes no dirigen deben procurar que se produzca esa conexión o chispazo entre el querer de Dios y la necesidad de nuestros hermanos. A partir de ahí vendrá la visión y el proyecto. A nuestros proyectos comunitarios no debería faltarles el alma de todo proyecto: la colaboración en la “missio Dei”, que da sentido a todo. La misión no debe ser el útlimo apartado, sino el primero, el que da razón de ser a todo. No somos primero religiosos y después misioneros. Somos religiosos porque nos sentimos llamados a una peculiar misión.
La “peculiaridad” de la misión en un “religioso” tiene que ver con la revelación de Dios, con mostrar el rostro de Dios. A partir de su bautismo, Jesús se dedicó a mostrar a Dios en hechos y palabras. Nuestra misión es, ante todo, mostrar a Jesús en hechos y palabras. A ello nos mueve y lleva el Espíritu Santo. Esa es la luz que brilla en lo que hacemos y decimos. Esa es el aura que nos envuelve las 24 horas del día.
Pero ¿existe entre nosotros el suficiente espíritu de fe como para plantearnos la misión en esta perspectiva?  Quien nos envía no es, primariamente la comunidad, es nuestro Dios quien envía a la comunidad y a cada uno de sus miembros. La comunidad no es dueña de la misión, ni es ella la que prescribe dónde y cómo ha de realizarse. La comunidad es “servidora de Jesús”. Y quienes tienen el liderazgo carismático han de procurar que nadie, ni individuo, ni grupo, suplanten al Señor, al Espíritu. Han de favorecer el discernimiento espiritual, para que el Maligno -con quien Jesús hubo de enfrentarse tantas veces, porque quería desvirtuar su misión-, no desvirtue y desencamine la misión de cada comunidad.

domingo, 17 de novembro de 2013

Doctores tiene la Iglesia

Escrito por Jesús Garmilla.
Cuando iba dejando atrás mi infancia y mi adolescencia, y comenzaba a barruntar preguntas sobre la religión cristiana que me habían transmitido de pequeño, comenzaron a incrementarse las preguntas en mi mente y en mi corazón de joven recién estrenado. Acudía a quienes tenía más cercanos: sacerdotes, profesores, tal vez a mis padres… Reconozco que mis preguntas, que eran dudas, ganas de saber, “cosas” que no veía claras o no entendía, podían ser complicadas, rebuscadas, “raras”; puede que traspasaran los límites de los conocimientos habituales, imprescindibles, heredados, suficientes para llevar una vida cristiana “normal” en un joven de mi edad. Tengo que admitir que pocas veces mis interrogantes quedaron medianamente resueltos. Predominaba una respuesta muy genérica: “Doctores tiene la Santa Madre Iglesia que te sabrán responder”. Por supuesto, nunca me dieron los nombres de dichos “doctores”, ni lógicamente su dirección o teléfono para poder contactar con ellos y resolver mis demandas, a veces un tanto angustiosas. Con el paso de los años tuve que buscarme, yo solito, la identidad y “residencia” de aquellos misteriosos doctores que todo lo sabían y no admitían duda alguna, nadando en el campo de las certezas teológicas.
Y es que la Iglesia casi siempre presumía de tener “respuesta para todo”. Soluciones que guardaban en una especie de cofre sagrado, un sancta sanctorum, al que pocos tenían acceso. Solía llamársele “depositum fidei”. Y había que ganarse, a fuerza de diálogo, lectura, reflexión, dudas y claridades, un cierto acceso a esa especie de “misterio” reservado a los más notables, normalmente, clérigos.
En esta Iglesia que tanto amamos, se nos ha dado todo hecho: los dogmas, creencias, rituales litúrgicos, normas éticas, organización jerárquica; representaban un”todo”, un “pack” decimos ahora, intocable, inmutable, fabricado de antemano por mentes sabias y, por supuesto, santas. Pocas veces se nos preguntó nada. Nosotros pertenecíamos a una Iglesia llamada “discente” (con la tarea de asentir y aprender), donde otro “sector”, el “docente”, tenía la misión de enseñar, transmitir, organizar; en ocasiones a través de mecanismos un tanto sospechosos donde la libertad y la responsabilidad personales quedaban un tanto menguados.
Todo esto para decir cuánto nos ha sorprendido, alegrado y entusiasmado el gesto insólito de Francisco, obispo de Roma y pastor universal de la Iglesia, de formularnos 38 preguntas a todos los cristianos, no sólo a la jerarquía, a los clérigos, a la parte que se mueve cercana al ápice de la pirámide eclesial, sino a la base de la misma, a los “discentes”, a los que siempre hemos tenido que acudir a esos misteriosos e inasequibles “doctores que tiene la Santa Madre Iglesia”. Con este gesto, inesperado por desacostumbrado, Francisco retorna a los inicios de la Iglesia, al “sensus fidelium”, es decir, al derecho y al deber de los cristianos de a pie a “decir nuestra palabra”, que no tiene por qué ser la última, pero puede ser la penúltima. Y que nos recuerda tanto a las primeras comunidades que nos narra Lucas, por ejemplo en la elección de Matías (cfr.Hech.1,15-26). Y por supuesto, al espíritu y a la letra del Vaticano II.
Lo lamentable es la reacción negativa que el evangélico (aunque desacostumbrado) gesto del Papa, ha supuesto en determinados sectores eclesiales. Da la impresión que preguntar a los cristianos sencillos sobre temas discutibles, opinables, y ciertamente graves y con una fuerte carga de sufrimiento para muchos, supone una dejación en el servicio ministerial de la autoridad petrina y de la jerarquía. Da la impresión de que la sinodalidad, la colegialidad, el llamamiento a la participación eclesial, del que tanto hablaba, entre otros, Carlo Martini, provoca un desajuste en las conciencias de determinados sectores católicos. Da la impresión de que algunos prefieren que les dicten desde arriba los comportamientos a seguir antes de auscultar las opiniones de los cristianos y de la sociedad civil… Pero tal vez lo más doloroso son las razones que se esgrimen para desautorizar una “consulta popular” como la que ha iniciado el Papa: ¡la ignorancia de los cristianos!  Es verdad que existe un profundo desconocimiento religioso/teológico en nuestro pueblo sencillo, pero debemos preguntarnos quiénes son los responsables de una ignorancia buscada, interesada e inducida durante siglos en nuestro laicado. La respuesta puede estar en la mente de muchos; ojalá estuviera en la mente de todos.
Fonte: http://www.vidareligiosa.es