sexta-feira, 20 de abril de 2012

Você é só frei?


Ser só frei basta! Muitas pessoas leigas me questionam, sobre o ser frei não clérigo. Fazendo perguntas como: o que é ser frei? Qual a serventia do frei, não padre, na Igreja? Qual a diferença entre o frei e o padre? E porque não ser padre de uma vez? Respondo: Foi Livre e espontaneamente, que decidi tornar-me irmão leigo. E é através da minha consagração religiosa que realizo a missão de anunciar a Boa Nova de Jesus Cristo. Vivendo em fraternidade dentro do carisma especifico franciscano capuchinho. Portanto, se falamos que Deus é Amor e só ele basta em nossa vida, então, ser frei, irmão de todos, basta!
Toda vocação é um chamado, que vem de Deus. E ao dar a resposta todo vocacionado é impregnado de responsabilidade para com Deus. Pois, foi Ele que o chamou e o consagrou: “Antes mesmo de te modelar no ventre materno, eu te conheci; antes que saísse do seio, eu te consagrei. Eu te constituí profeta para as nações (cf: Jeremias 1,4-5)”.
Somos conclamados a proclamar os altos feitos do Senhor, segundo São Pedro (cf: 1Pd 2,9). Desse modo compreendemo-nos “co-herdeiros de Cristo” e, portanto, consagrados, participantes, por excelência, não apenas dos seus sofrimentos, mas também da sua glória (cf: Rm 8,16 -17). Tal consagração não é senão pela verdade que é a Palavra de Deus.
O vocacionado consagra-se a Deus, e este joga o consagrado no mundo. Eles não pertencem ao mundo, como eu não pertenço ao mundo. Consagra-os com a verdade: a verdade é a tua palavra. Assim como tu me enviaste ao mundo, eu também os envio ao mundo. Em favor deles eu me consagro a fim de que também eles sejam consagrados com a verdade (cf: Jo 17,16 -18).” Estando no mundo sem ser do mundo, mas enviados a ele para, assim como Jesus, fazer brilhar a glória dos grandes feitos de Deus.
Pode-se muito bem ser um consagrado sem ser um ministro ordenado. Há de se considerar que o ideal é voltar às origens, quando a vida religiosa nasceu leiga, tendo se clericalizado só em um segundo momento. Momento em que o profetismo tinha prevalência. E, nisso, o religioso irmão podem ser profetas para seus confrades ordenados.
O Concilio Vaticano II no Decreto sobre a renovação da vida religiosa Perfectae caritatis, numero 10 afirma: “A vida religiosa leiga, tanto masculina como feminina, constitui por si mesma um estado pleno de profissão dos conselhos evangélicos, confirmando tais religiosos em sua vocação e exortando-os a adaptarem as suas vidas às exigências atuais devido à importância maior que possuem para o ministério pastoral da Igreja.” Portanto, o Concílio reconhece a importância desta vocação no meio da sociedade e do mundo.
A Lumen Gentium (43,44) segue o mesmo exemplo e defende: “pela constituição hierárquica da Igreja, esse estado de vida não é intermediário entre a condição dos clérigos e dos leigos e sim um dom peculiar na vida da Igreja e faz parte, indubitavelmente, de sua vida e de sua santidade”. 
Como imitadores e seguidores de Cristo, exercemos o nosso sacerdócio comum pelo múnus apostólico adquirido no sacramento do Batismo e confirmado nos demais sacramentos que nos conferem a graça de sermos sacerdotes, pastores e reis, fazendo parte do sacerdócio real de Cristo. Somos, portanto, habilitados a colaborar de perto com a Igreja particular, cooperando com o bispo diocesano no seu ministério pastoral, pois vemos o nosso estado como uma das maneiras de consagração “mais íntima”, radicado no Batismo e dedicado totalmente a Deus pela vivência dos conselhos evangélicos.
Podemos ainda, na vivência de tal consagração, “colaborar com a gestação de uma nova geração de cristãos discípulos e missionários de Jesus Cristo e de uma sociedade onde se respeite a justiça e a dignidade da pessoa humana, fazendo transparecer o rosto materno da Igreja”, de acordo com o pedido no Documento de Aparecida do Episcopado Latino Americano e do Caribe.
O religioso irmão chamado por Deus e reconhecido pela Igreja é, portanto, uma vocação especial semeada no coração do mundo. Vocação que precisa ser regada, cultivada com o carinho e o respeito devidos. Que o Senhor nos conceda um coração bem aberto a seu Espírito, presente e atuante na história. 
 Que suas propostas, Senhor, nos encontrem acordados e preparados para seguir seus caminhos, por mais desconcertantes que nos possam parecer. Seguir seus caminhos intermanete como frei, irmão consagrado