sábado, 6 de dezembro de 2014

Papa Francisco abre ano da Vida Religiosa com mensagem



Em carta apostólica, Francisco indica objetivos e expectativas para o Ano da Vida Consagrada

A Sala de Imprensa da Santa Sé publicou na sexta-feira, 28 de novembro , a carta apostólica do Papa Francisco a todos os consagrados por ocasião do Ano da Vida Consagrada, que começou oficialmente  domingo, 30 de novembro.

A mensagem do Papa com indicações para esse Ano é inspirada nas palavras de João Paulo II apresentada à Igreja no início do terceiro milênio com a Exortação Apostólica Pós-SinodalVita consecrata:

“Carta na Integra"

Consagradas e consagrados caríssimos!

Escrevo-vos como Sucessor de Pedro, a quem o Senhor Jesus confiou a tarefa de confirmar na fé os seus irmãos (cf. Lc 22, 32), e escrevo-vos como vosso irmão, consagrado a Deus como vós.

Juntos, damos graças ao Pai, que nos chamou para seguir Jesus na plena adesão ao seu Evangelho e no serviço da Igreja e derramou nos nossos corações o Espírito Santo que nos dá alegria e nos faz dar testemunho ao mundo inteiro do seu amor e da sua misericórdia.

Fazendo-me eco do sentir de muitos de vós e da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, por ocasião do quinquagésimo aniversário da Constituição dogmática Lumen gentium sobre a Igreja, que no capítulo VI trata dos religiosos, bem como do Decreto Perfectae caritatis sobre a renovação da vida religiosa, decidi proclamar um Ano da Vida Consagrada. Terá início no dia 30 do corrente mês de Novembro, I Domingo de Advento, e terminará com a festa da Apresentação de Jesus no Templo a 2 de Fevereiro de 2016.

Depois de ter ouvido a Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, indiquei como objectivos para este Ano os mesmos que São João Paulo II propusera à Igreja no início do terceiro milénio, retomando, de certa forma, aquilo que já havia indicado na Exortação pós-sinodal Vita consecrata: «Vós não tendes apenas uma história gloriosa para recordar e narrar, mas uma grande história a construir! Olhai para o futuro, para o qual vos projecta o Espírito a fim de realizar convosco ainda coisas maiores» (n. 110).

– I –

Os objectivos do Ano da Vida Consagrada

1. O primeiro objectivo é olhar com gratidão o passado. Cada um dos nossos Institutos provém duma rica história carismática. Nas suas origens, está presente a acção de Deus que, no seu Espírito, chama algumas pessoas para seguirem de perto a Cristo, traduzirem o Evangelho numa forma particular de vida, lerem com os olhos da fé os sinais dos tempos, responderem criativamente às necessidades da Igreja. Depois a experiência dos inícios cresceu e desenvolveu-se, tocando outros membros em novos contextos geográficos e culturais, dando vida a modos novos de implementar o carisma, a novas iniciativas e expressões de caridade apostólica. É como a semente que se torna árvore alargando os seus ramos.

Neste Ano, será oportuno que cada família carismática recorde os seus inícios e o seu desenvolvimento histórico, para agradecer a Deus que deste modo ofereceu à Igreja tantos dons que a tornam bela e habilitada para toda a boa obra (cf. Lumen gentium, 12).

Repassar a própria história é indispensável para manter viva a identidade e também robustecer a unidade da família e o sentido de pertença dos seus membros. Não se trata de fazer arqueologia nem cultivar inúteis nostalgias, mas de repercorrer o caminho das gerações passadas para nele captar a centelha inspiradora, os ideais, os projectos, os valores que as moveram, a começar dos Fundadores, das Fundadoras e das primeiras comunidades. É uma forma também para se tomar consciência de como foi vivido o carisma ao longo da história, que criatividade desencadeou, que dificuldades teve de enfrentar e como foram superadas. Poder-se-á descobrir incoerências, fruto das fraquezas humanas, e talvez mesmo qualquer esquecimento de alguns aspectos essenciais do carisma. Tudo é instrutivo, tornando-se simultaneamente apelo à conversão. Narrar a própria história é louvar a Deus e agradecer-Lhe por todos os seus dons.

De modo particular, agradecemos-Lhe por estes últimos 50 anos após o Concílio Vaticano II, que representou uma «ventania» do Espírito Santo sobre toda a Igreja; graças ao Concílio, de facto, a vida consagrada empreendeu um fecundo caminho de renovação, o qual, com as suas luzes e sombras, foi um tempo de graça, marcado pela presença do Espírito.

Que este Ano da Vida Consagrada seja ocasião também para confessar, com humildade e simultaneamente grande confiança em Deus Amor (cf. 1 Jo 4, 8), a própria fragilidade e para a viver como experiência do amor misericordioso do Senhor; ocasião para gritar ao mundo com força e testemunhar com alegria a santidade e a vitalidade presentes na maioria daqueles que foram chamados a seguir Cristo na vida consagrada.

2. Além disso, este Ano chama-nos a viver com paixão o presente. A lembrança agradecida do passado impele-nos, numa escuta atenta daquilo que o Espírito diz hoje à Igreja, a implementar de maneira cada vez mais profunda os aspectos constitutivos da nossa vida consagrada.

Desde os inícios do primeiro monaquismo até às «novas comunidades» de hoje, cada forma de vida consagrada nasceu da chamada do Espírito para seguir a Cristo segundo o ensinamento do Evangelho (cf. Perfectae caritatis, 2). Para os Fundadores e as Fundadoras, a regra em absoluto foi o Evangelho; qualquer outra regra pretendia apenas ser expressão do Evangelho e instrumento para o viver em plenitude. O seu ideal era Cristo, aderir inteiramente a Ele podendo dizer com Paulo: «Para mim, viver é Cristo» (Flp 1, 21); os votos tinham sentido apenas para implementar este seu amor apaixonado.

A pergunta que somos chamados a pôr neste Ano é se e como nos deixamos, também nós, interpelar pelo Evangelho; se este é verdadeiramente o «vademecum» para a vida de cada dia e para as opções que somos chamados a fazer. Isto é exigente e pede para ser vivido com radicalismo e sinceridade. Não basta lê-lo (e no entanto a leitura e o estudo permanecem de extrema importância), nem basta meditá-lo (e fazemo-lo com alegria todos os dias); Jesus pede-nos para pô-lo em prática, para viver as suas palavras.

Jesus – devemos perguntar-nos ainda – é verdadeiramente o primeiro e o único amor, como nos propusemos quando professamos os nossos votos? Só em caso afirmativo, poderemos – como é nosso dever – amar verdadeira e misericordiosamente cada pessoa que encontramos no nosso caminho, porque teremos aprendido d’Ele o que é o amor e como amar: saberemos amar, porque teremos o seu próprio coração.

Os nossos Fundadores e Fundadoras sentiram em si mesmos a compaixão que se apoderava de Jesus quando via as multidões como ovelhas extraviadas sem pastor. Tal como Jesus, movido por tal compaixão, comunicou a sua palavra, curou os doentes, deu o pão para comer, ofereceu a sua própria vida, assim também os Fundadores se puseram ao serviço da humanidade, à qual eram enviados pelo Espírito servindo-a dos mais diversos modos: com a intercessão, a pregação do Evangelho, a catequese, a instrução, o serviço aos pobres, aos doentes… A inventiva da caridade não conheceu limites e soube abrir inúmeras estradas para levar o sopro da Evangelho às culturas e aos sectores sociais mais diversos.

O Ano da Vida Consagrada questiona-nos sobre a fidelidade à missão que nos foi confiada. Os nossos serviços, as nossas obras, a nossa presença correspondem àquilo que o Espírito pediu aos nossos Fundadores, sendo adequados para encalçar as suas finalidades na sociedade e na Igreja actual? Há algo que devemos mudar? Temos a mesma paixão pelo nosso povo, solidarizamo-nos com ele até ao ponto de partilhar as suas alegrias e sofrimentos, a fim de podermos compreender verdadeiramente as suas necessidades e contribuir com a nossa parte para lhes dar resposta? Como a seu tempo pedia São João Paulo II, «a mesma generosidade e abnegação que impeliram os Fundadores devem levar-vos a vós, seus filhos espirituais, a manter vivos os seus carismas, que continuam – com a mesma força do Espírito que os suscitou – a enriquecer-se e adaptar-se, sem perder o seu carácter genuíno, para se porem ao serviço da Igreja e levarem à plenitude a implantação do seu Reino»[1].

Ao recordar as origens, há que evidenciar mais um componente do projecto de vida consagrada. Os Fundadores e as Fundadoras viviam fascinados pela unidade dos Doze ao redor de Jesus, pela comunhão que caracterizava a primeira comunidade de Jerusalém. Cada um deles, ao dar vida à sua comunidade, pretendeu reproduzir tais modelos evangélicos, formar um só coração e uma só alma, gozar da presença do Senhor (cf. Perfectae caritatis, 15).

Viver com paixão o presente significa tornar-se «peritos em comunhão», ou seja, «testemunhas e artífices daquele “projecto de comunhão” que está no vértice da história do homem segundo Deus»[2]. Numa sociedade marcada pelo conflito, a convivência difícil entre culturas diversas, a prepotência sobre os mais fracos, as desigualdades, somos chamados a oferecer um modelo concreto de comunidade que, mediante o reconhecimento da dignidade de cada pessoa e a partilha do dom que cada um é portador, permita viver relações fraternas.

Por isso, sede mulheres e homens de comunhão, marcai presença com coragem onde há disparidades e tensões, e sede sinal credível da presença do Espírito que infunde nos corações a paixão por todos serem um só (cf. Jo 17, 21). Vivei a mística do encontro: a capacidade de ouvir atentamente as outras pessoas; «a capacidade de procurar juntos o caminho, o método»[3], deixando-vos iluminar pelo relacionamento de amor que se verifica entre as três Pessoas divinas (cf. 1 Jo 4, 8) e tomando-o como modelo de toda a relação interpessoal.

3. Abraçar com esperança o futuro é o terceiro objectivo que se pretende neste Ano. Conhecemos as dificuldades que enfrenta a vida consagrada nas suas diversas formas: a diminuição das vocações e o envelhecimento, especialmente no mundo ocidental, os problemas económicos na sequência da grave crise financeira mundial, os desafios da internacionalidade e da globalização, as insídias do relativismo, a marginalização e a irrelevância social… É precisamente nestas incertezas, que partilhamos com muitos dos nossos contemporâneos, que se actua a nossa esperança, fruto da fé no Senhor da história que continua a repetir-nos: «Não terás medo (…), pois Eu estou contigo» (Jr 1, 8).

A esperança de que falamos não se funda sobre números ou sobre as obras, mas sobre Aquele em quem pusemos a nossa confiança (cf. 2 Tm 1, 12) e para quem «nada é impossível» (Lc 1, 37). Esta é a esperança que não desilude e que permitirá à vida consagrada continuar a escrever uma grande história no futuro, para o qual se deve voltar o nosso olhar, cientes de que é para ele que nos impele o Espírito Santo a fim de continuar a fazer, conosco, grandes coisas.

Não cedais à tentação dos números e da eficiência, e menos ainda à tentação de confiar nas vossas próprias forças. Com atenta vigilância, perscrutai os horizontes da vossa vida e do momento actual. Repito-vos com Bento XVI: «Não vos unais aos profetas de desventura, que proclamam o fim ou a insensatez da vida consagrada na Igreja dos nossos dias; pelo contrário, revesti-vos de Jesus Cristo e muni-vos das armas da luz – como exorta São Paulo (cf. Rm 13, 11-14) –, permanecendo acordados e vigilantes»[4]. Prossigamos, retomando sempre o nosso caminho com confiança no Senhor.

Dirijo-me sobretudo a vós, jovens. Sois o presente, porque viveis já activamente dentro dos vossos Institutos, prestando uma decisiva contribuição com o frescor e a generosidade da vossa opção. Ao mesmo tempo sois o seu futuro, porque em breve sereis chamados a tomar nas vossas mãos a liderança da animação, da formação, do serviço, da missão. Este Ano há-de ver-vos protagonistas no diálogo com a geração que vai à vossa frente; podereis, em comunhão fraterna, enriquecer-vos com a sua experiência e sabedoria e, ao mesmo tempo, repropor-lhe o ideal que conheceu no seu início, oferecer o ímpeto e o frescor do vosso entusiasmo, a fim de elaborardes em conjunto novos modos de viver o Evangelho e respostas cada vez mais adequadas às exigências de testemunho e de anúncio.

Fico feliz em saber que ides ter ocasiões para vos encontrardes entre vós, jovens dos diferentes Institutos. Que o encontro se torne caminho habitual de comunhão, de apoio mútuo, de unidade.

– II –

As expectativas para o Ano da Vida Consagrada

Que espero eu, em particular, deste Ano de graça da vida consagrada?

1. Que seja sempre verdade aquilo que eu disse uma vez: «Onde estão os religiosos, há alegria». Somos chamados a experimentar e mostrar que Deus é capaz de preencher o nosso coração e fazer-nos felizes sem necessidade de procurar noutro lugar a nossa felicidade, que a autêntica fraternidade vivida nas nossas comunidades alimenta a nossa alegria, que a nossa entrega total ao serviço da Igreja, das famílias, dos jovens, dos idosos, dos pobres nos realiza como pessoas e dá plenitude à nossa vida.

Que entre nós não se vejam rostos tristes, pessoas desgostosas e insatisfeitas, porque «um seguimento triste é um triste seguimento». Também nós, como todos os outros homens e mulheres, sentimos dificuldades, noites do espírito, desilusões, doenças, declínio das forças devido à velhice. Mas, nisto mesmo, deveremos encontrar a «perfeita alegria», aprender a reconhecer o rosto de Cristo, que em tudo Se fez semelhante a nós e, consequentemente, sentir a alegria de saber que somos semelhantes a Ele que, por nosso amor, não Se recusou a sofrer a cruz.

Numa sociedade que ostenta o culto da eficiência, da saúde, do sucesso e que marginaliza os pobres e exclui os «perdedores», podemos testemunhar, através da nossa vida, a verdade destas palavras da Escritura: «Quando sou fraco, então é que sou forte» (2 Cor 12, 10).

Bem podemos aplicar à vida consagrada aquilo que escrevi na Exortação apostólica Evangelii gaudium, citando uma homilia deBento XVI: «A Igreja não cresce por proselitismo, mas por atracção» (n. 14). É verdade! A vida consagrada não cresce, se organizarmos belas campanhas vocacionais, mas se as jovens e os jovens que nos encontram se sentirem atraídos por nós, se nos virem homens e mulheres felizes! De igual forma, a eficácia apostólica da vida consagrada não depende da eficiência e da força dos seus meios. É a vossa vida que deve falar, uma vida da qual transparece a alegria e a beleza de viver o Evangelho e seguir a Cristo.

O que disse aos Movimentos eclesiais, na passada Vigília de Pentecostes, repito-o aqui para vós também: «Fundamentalmente, o valor da Igreja é viver o Evangelho e dar testemunho da nossa fé. A Igreja é sal da terra, é luz do mundo; é chamada a tornar presente na sociedade o fermento do Reino de Deus; e fá-lo, antes de mais nada, por meio do seu testemunho: o testemunho do amor fraterno, da solidariedade, da partilha» (18 de Maio de 2013).

2. Espero que «desperteis o mundo», porque a nota característica da vida consagrada é a profecia. Como disse aos Superiores Gerais, «a radicalidade evangélica não é própria só dos religiosos: é pedida a todos. Mas os religiosos seguem o Senhor de uma maneira especial, de modo profético». Esta é a prioridade que agora se requer: «ser profetas que testemunham como viveu Jesus nesta terra (…). Um religioso não deve jamais renunciar à profecia» (29 de Novembro de 2013).

O profeta recebe de Deus a capacidade de perscrutar a história em que vive e interpretar os acontecimentos: é como uma sentinela que vigia durante a noite e sabe quando chega a aurora (cf. Is 21, 11-12). Conhece a Deus e conhece os homens e as mulheres, seus irmãos e irmãs. É capaz de discernimento e também de denunciar o mal do pecado e as injustiças, porque é livre, não deve responder a outros senhores que não seja a Deus, não tem outros interesses além dos de Deus. Habitualmente o profeta está da parte dos pobres e indefesos, porque sabe que o próprio Deus está da parte deles.

Deste modo espero que saibais, sem vos perder em vãs «utopias», criar «outros lugares» onde se viva a lógica evangélica do dom, da fraternidade, do acolhimento da diversidade, do amor recíproco. Mosteiros, comunidades, centros de espiritualidade, cidadelas, escolas, hospitais, casas-família e todos aqueles lugares que a caridade e a criatividade carismática fizeram nascer – e ainda farão nascer, com nova criatividade –, devem tornar-se cada vez mais o fermento para uma sociedade inspirada no Evangelho, a «cidade sobre o monte» que manifesta a verdade e a força das palavras de Jesus.

Às vezes, como aconteceu com Elias e Jonas, pode vir a tentação de fugir, de subtrair-se ao dever de profeta, porque é demasiado exigente, porque se está cansado, desiludido com os resultados. Mas o profeta sabe que nunca está sozinho. Também a nós, como fez a Jeremias, Deus assegura: «Não terás medo (…), pois Eu estou contigo para te livrar» (Jr 1, 8).

3. Os religiosos e as religiosas, como todas as outras pessoas consagradas, são chamados a ser «peritos em comunhão». Assim, espero que a «espiritualidade da comunhão», indicada por São João Paulo II, se torne realidade e que vós estejais na vanguarda abraçando «o grande desafio que nos espera» neste novo milénio: «fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão»[5]. Estou certo de que, neste Ano, trabalhareis a sério para que o ideal de fraternidade perseguido pelos Fundadores e pelas Fundadoras cresça, nos mais diversos níveis, como que em círculos concêntricos.

A comunhão é praticada, antes de mais nada, dentro das respectivas comunidades do Instituto. A este respeito, convido-vos a reler frequentes intervenções minhas onde não me canso de repetir que críticas, bisbilhotices, invejas, ciúmes, antagonismos são comportamentos que não têm direito de habitar nas nossas casas. Mas, posta esta premissa, o caminho da caridade que se abre diante de nós é quase infinito, porque se trata de buscar a aceitação e a solicitude recíprocas, praticar a comunhão dos bens materiais e espirituais, a correcção fraterna, o respeito pelas pessoas mais frágeis… É «a “mística” de viver juntos» que faz da nossa vida «uma peregrinação sagrada»[6]. Tendo em conta que as nossas comunidades se tornam cada vez mais internacionais, devemos questionar-nos também sobre o relacionamento entre as pessoas de culturas diferentes. Como consentir a cada um de se exprimir, ser acolhido com os seus dons específicos, tornar-se plenamente co-responsável?

Além disso, espero que cresça a comunhão entre os membros dos diferentes Institutos. Não poderia este Ano ser ocasião de sair, com maior coragem, das fronteiras do próprio Instituto para se elaborar em conjunto, a nível local e global, projectos comuns de formação, de evangelização, de intervenções sociais? Poder-se-á assim oferecer, de forma mais eficaz, um real testemunho profético. A comunhão e o encontro entre diferentes carismas e vocações é um caminho de esperança. Ninguém constrói o futuro isolando-se, nem contando apenas com as próprias forças, mas reconhecendo-se na verdade de uma comunhão que sempre se abre ao encontro, ao diálogo, à escuta, à ajuda mútua e nos preserva da doença da auto-referencialidade.

Ao mesmo tempo, a vida consagrada é chamada a procurar uma sinergia sincera entre todas as vocações na Igreja, a começar pelos presbíteros e os leigos, a fim de «fazer crescer a espiritualidade da comunhão, primeiro no seu seio e depois na própria comunidade eclesial e para além dos seus confins»[7].

4. Espero ainda de vós o mesmo que peço a todos os membros da Igreja: sair de si mesmo para ir às periferias existenciais. «Ide pelo mundo inteiro» foi a última palavra que Jesus dirigiu aos seus e que continua hoje a dirigir a todos nós (cf. Mc 16, 15). A humanidade inteira aguarda: pessoas que perderam toda a esperança, famílias em dificuldade, crianças abandonadas, jovens a quem está vedado qualquer futuro, doentes e idosos abandonados, ricos saciados de bens mas com o vazio no coração, homens e mulheres à procura do sentido da vida, sedentos do divino…

Não vos fecheis em vós mesmos, não vos deixeis asfixiar por pequenas brigas de casa, não fiqueis prisioneiros dos vossos problemas. Estes resolver-se-ão se sairdes para ajudar os outros a resolverem os seus problemas, anunciando-lhes a Boa Nova. Encontrareis a vida dando a vida, a esperança dando esperança, o amor amando.

De vós espero gestos concretos de acolhimento dos refugiados, de solidariedade com os pobres, de criatividade na catequese, no anúncio do Evangelho, na iniciação à vida de oração. Consequentemente almejo a racionalização das estruturas, a reutilização das grandes casas em favor de obras mais cônsonas às exigências actuais da evangelização e da caridade, a adaptação das obras às novas necessidades.

5. Espero que cada forma de vida consagrada se interrogue sobre o que pedem Deus e a humanidade de hoje.

Os mosteiros e os grupos de orientação contemplativa poderiam encontrar-se entre si ou conectar-se nos mais variados modos, para trocarem entre si as experiências sobre a vida de oração, o modo como crescer na comunhão com toda a Igreja, como apoiar os cristãos perseguidos, como acolher e acompanhar as pessoas que andam à procura duma vida espiritual mais intensa ou necessitam de um apoio moral ou material.

O mesmo poderão fazer os Institutos caritativos, dedicados ao ensino, à promoção da cultura, aqueles que estão lançados no anúncio do Evangelho ou desempenham particulares serviços pastorais, os Institutos Seculares com a sua presença capilar nas estruturas sociais. A inventiva do Espírito gerou modos de vida e obras tão diferentes que não podemos facilmente catalogá-los ou inseri-los em esquemas pré-fabricados. Por isso, não consigo referir cada uma das inúmeras formas carismáticas. Mas, neste Ano, ninguém deveria subtrair-se a um sério controle sobre a sua presença na vida da Igreja e sobre o seu modo de responder às incessantes e novas solicitações que se levantam ao nosso redor, ao clamor dos pobres.

Só com esta atenção às necessidades do mundo e na docilidade aos impulsos do Espírito é que este Ano da Vida Consagrada se tornará um autêntico kairòs, um tempo de Deus rico de graças e de transformação.

– III –

Os horizontes do Ano da Vida Consagrada

1. Com esta minha carta, além das pessoas consagradas, dirijo-me aos leigos que, com elas, partilham ideais, espírito, missão. Alguns Institutos religiosos possuem uma antiga tradição a tal respeito, outros uma experiência mais recente. Na realidade, à volta de cada família religiosa, bem como das Sociedades de Vida Apostólica e dos próprios Institutos Seculares, está presente uma família maior, a «família carismática», englobando os vários Institutos que se reconhecem no mesmo carisma e sobretudo os cristãos leigos que se sentem chamados, precisamente na sua condição laical, a participar da mesma realidade carismática.

Encorajo-vos também a vós, leigos, a viver este Ano da Vida Consagrada como uma graça que pode tornar-vos mais conscientes do dom recebido. Celebrai-o com toda a «família», para crescerdes e responderdes juntos aos apelos do Espírito na sociedade actual. Em determinadas ocasiões, quando os consagrados de vários Institutos se reunirem uns com os outros neste Ano, procurai estar presente também vós como expressão do único dom de Deus, a fim de conhecer as experiências das outras famílias carismáticas, dos outros grupos de leigos e assim vos enriquecerdes e sustentardes mutuamente.

2. O Ano da Vida Consagrada não diz respeito apenas às pessoas consagradas, mas à Igreja inteira. Assim dirijo-me a todo o povo cristão, para que tome cada vez maior consciência do dom que é a presença de tantas consagradas e consagrados, herdeiros de grandes Santos que fizeram a história do cristianismo. Que seria a Igreja sem São Bento e São Basílio, sem Santo Agostinho e São Bernardo, sem São Francisco e São Domingos, sem Santo Inácio de Loyola e Santa Teresa de Ávila, sem Santa Ângela Merícia e São Vicente de Paulo? E a lista tornar-se-ia quase infinita, até São João Bosco, a Beata Teresa de Calcutá. O Beato Paulo VIafirmava: «Sem este sinal concreto, a caridade que anima a Igreja inteira correria o risco de se resfriar, o paradoxo salvífico do Evangelho de se atenuar, o “sal” da fé de se diluir num mundo em fase de secularização» (Evangelica testificatio, 3).

Por isso, convido todas as comunidades cristãs a viverem este Ano, procurando antes de mais nada agradecer ao Senhor e, reconhecidas, recordar os dons que foram recebidos, e ainda recebemos, por meio da santidade dos Fundadores e das Fundadoras e da fidelidade de tantos consagrados ao seu próprio carisma. A todos vos convido a estreitar-vos ao redor das pessoas consagradas, rejubilar com elas, partilhar as suas dificuldades, colaborar com elas, na medida do possível, para a prossecução do seu serviço e da sua obra, que são aliás os da Igreja inteira. Fazei-lhes sentir o carinho e o encorajamento de todo o povo cristão.

Bendigo o Senhor pela feliz coincidência do Ano da Vida Consagrada com o Sínodo sobre a família. Família e vida consagrada são vocações portadoras de riqueza e graça para todos, espaços de humanização na construção de relações vitais, lugares de evangelização. Podem-se ajudar uma à outra.

3. Com esta minha carta, ouso dirigir-me também às pessoas consagradas e aos membros de fraternidades e comunidades pertencentes a Igrejas de tradição diversa da católica. O monaquismo é um património da Igreja indivisa, bem vivo até agora quer nas Igrejas ortodoxas quer na Igreja católica. Nele bem como nas sucessivas experiências do tempo em que a Igreja do Ocidente ainda estava unida, se inspiram iniciativas análogas surgidas no âmbito das Comunidades eclesiais da Reforma, tendo estas continuado a gerar no seu seio novas expressões de comunidades fraternas e de serviço.

A Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica tem em programa iniciativas para fazer encontrar os membros pertencentes a experiências de vida consagrada e fraterna das diversas Igrejas. Encorajo calorosamente estes encontros, para que cresça o conhecimento mútuo, a estima, a cooperação recíproca, de modo que o ecumenismo da vida consagrada sirva de ajuda para o caminho mais amplo rumo à unidade entre todas as Igrejas.

4. Não podemos esquecer também que o fenómeno do monaquismo e doutras expressões de fraternidade religiosa está presente em todas as grandes religiões. Não faltam experiências, mesmo consolidadas, de diálogo inter-monástico da Igreja católica com algumas das grandes tradições religiosas. Faço votos de que o Ano da Vida Consagrada seja ocasião para avaliar o caminho percorrido, sensibilizar as pessoas consagradas neste campo, questionar-nos sobre os novos passos a dar para um conhecimento recíproco cada vez mais profundo e uma colaboração crescente em muitos âmbitos comuns do serviço à vida humana.

Caminhar juntos é sempre um enriquecimento e pode abrir caminhos novos nas relações entre povos e culturas que, neste período, aparecem carregadas de dificuldades.

5. Por fim dirijo-me, de modo particular, aos meus irmãos no episcopado. Que este Ano seja uma oportunidade para acolher, cordial e jubilosamente, a vida consagrada como um capital espiritual que contribua para o bem de todo o corpo de Cristo (cf.Lumen gentium, 43) e não só das famílias religiosas. «A vida consagrada é dom feito à Igreja: nasce na Igreja, cresce na Igreja, está totalmente orientada para a Igreja»[8]. Por isso, enquanto dom à Igreja, não é uma realidade isolada ou marginal, mas pertence intimamente a ela, situa-se no próprio coração da Igreja, como elemento decisivo da sua missão, já que exprime a natureza íntima da vocação cristã e a tensão de toda a Igreja-Esposa para a união com o único Esposo; portanto «está inabalavelmente ligada à sua vida e santidade» (Ibid., 44).

Neste contexto, convido-vos, a vós Pastores das Igrejas particulares, a uma especial solicitude em promover nas vossas comunidades os diferentes carismas, tanto os históricos como os novos carismas, apoiando, animando, ajudando no discernimento, acompanhando com ternura e amor as situações de sofrimento e fraqueza em que se possam encontrar alguns consagrados, e sobretudo esclarecendo com o vosso ensino o povo de Deus sobre o valor da vida consagrada, de modo a fazer resplandecer a sua beleza e santidade na Igreja.

A Maria, Virgem da escuta e da contemplação, primeira discípula do seu amado Filho, confio este Ano da Vida Consagrada. Para Ela, filha predilecta do Pai e revestida de todos os dons da graça, olhamos como modelo insuperável de seguimento no amor a Deus e no serviço do próximo.

Agradecido desde já, com todos vós, pelos dons de graça e de luz com que o Senhor quiser enriquecer-nos, acompanho-vos a todos com a Bênção Apostólica.
Fonte: www.capuchinhosrs.org.br

Vaticano, 21 de Novembro – Festa da Apresentação de Maria – do ano 2014.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

«La oportunidad para la mujer al borde de la calle»

María José Alos y Consuelo Rojo son dos religiosas adoratrices. Son mujeres de juventud madura que quieren vivir al pulso del momento presente. Después de varios destinos, ahora están dando lo mejor de sí en Valencia y Burgos, respectivamente. Manifiestan realismo, pero con más fuerza, esperanza. Siguen, como toda su congregación, al lado de la mujer excluida, marginada o explotada. En las situaciones de máxima debilidad, han descubierto la bienaventuranza que les da vida. Porque –como afirman– es posible un mundo distinto.
¿Qué misión estáis realizando ahora en vuestras comunidades?
María José Alos: Vivimos en una casa pequeña destinada a la acogida de “mujeres víctimas de trata” con fines de explotación sexual. El proyecto acaba de sufrir un cambio. El motivo surge por querer dar respuesta a una necesidad que se nos planteaba en Valencia –pues no existen casas de acogida para “mujeres víctimas de trata” en toda la Comunidad Valenciana–, así que nos arriesgamos para atender las necesidades de estas mujeres.
Aquí llevo la administración del proyecto y de la comunidad.
Por otro lado, partiendo de que la identificación de las mujeres, “víctimas de trata” con fines de explotación sexual, la realiza la policía, nosotras estamos luchando para poder acompañar a las mujeres en este trance. No tienen confianza en las fuerzas y cuerpos de seguridad; digamos que lo que conocen en sus países de origen, y en su tránsito por España, no es muy positivo o agradable. De ahí que no suelan hablar y se mantengan en silencio.
Nuestro deseo es poder realizar nosotras esa identificación, ya que ser mujeres nos acerca un poco más a ellas, y el hecho de conversar y compartir, nos abre las puertas para profundizar en su sitación y poder acompañarlas en esos momentos tan duros por los que están pasando: momentos de confusión, de miedo, de incertidumbre... Por ello, nos planteamos salir a la calle para encontrarnos con ellas. No podemos esperar, solamente, a las “redadas” de la policía.
Cuando una mujer es identificada como “víctima de trata” se le ofrece nuestra casa, a la que ellas acceden libremente.
La Ley de Extranjería, en su art. 59 bis, ofrece a la mujer un tiempo de reflexión para que decida qué quiere hacer: poner una denuncia, regresar a su país… Ese período es de 30 días para decidir su futuro, para tomar la decisión de quedarse o marcharse. Comprendemos que es muy poco tiempo para que estas mujeres puedan recuperarse tanto física como emocionalmente. Por eso les ofrecemos nuestra casa, un espacio donde sentirse lo más cómodas posible, donde se puedan sentir seguras y a salvo, y puedan, sobre todo, recuperarse.
Consuelo Rojo: Nuestra casa es una comunidad que se amplía cada vez que llega alguien nuevo.
Las Adoratrices hablamos de ofrecer casas de puertas abiertas. Por eso abrimos nuestras puertas a cada mujer que desea descansar o lanzarse a la aventura de lo nuevo. Las puertas permanecen abiertas para que la vida siga siendo eso, vida. Nuestra misión principal es creer en cada mujer, y en ser testigos de que la vida de Jesús puede resucitar en cada una de ellas.
¿Qué fue lo que más os atrajo de las Adoratrices? ¿Cómo supisteis que este era vuestro sitio?
M.J.A: Es curioso pues yo no conocía a las Adoratrices, ni siquiera sabía que existían. Estudié en un colegio religioso -Franciscanas de la Inmaculada-, pero nunca me planteé ser religiosa. Recuerdo que cuando inicié mi proceso vocacional, ya dirigido hacia la vida consagrada, me encontré como quien busca una aguja en un pajar. Lo único que tenía claro es que buscaba un lugar donde poder ayudar a la mujer, donde mi experiencia de vida me permitiera acompañar. Así que, con mi acompañante iniciamos esta búsqueda y, al conocer a las Adoratrices, supe que ese era mi lugar. En ellas vi algo que me cautivó: la acogida, la familiaridad. Me sentía bien, en paz, me sentía invitada a volver con ellas; a querer conocerlas un poco más.
La combinación de la misión que tenían -acogida a la mujer con problemas de adicción- y aquello que las empujaba a realizar su misión -la Eucaristía- me pareció perfecta.
C.R: A mí, desde el principio, lo que más me atrajo fue el encontrarme con mujeres felices, que vivían su consagración desde el servicio a la mujer explotada. Mujeres que hacen camino con mujeres que desean recuperar su vida; mujeres que han aprendido a vivir desde la verdad, haciendo de cada día un intento de encuentro y sanación.
¿Cómo es vuestra experiencia de vida comunitaria? ¿Qué significa para vosotras “compartir”?
M.J.A: Quiero decir que, según mi experiencia, la vida comunitaria en las etapas de formación se cuida mucho, pero cuando ya estás “inserta en el mundo” -por decirlo de alguna forma- la cosa cambia.
Nuestra vida comunitaria, por ejemplo, es compartida con las mujeres que acogemos, es decir, vivimos todas juntas, como en una familia. Intentamos cuidar los espacios en los que solo estamos las religiosas de la comunidad (que no siempre se consigue). Para mí, compartirlo todo significa vivir las 24 horas con mis hermanas y con las mujeres acogidas. Tenemos espacios comunes: cocina, sala de televisión, capilla… pero lo mejor es compartir la mesa y, en ella, nuestro día, el de las mujeres, el de la propia comunidad. Eso no quiere decir que no tengamos dificultades; las tenemos. A veces, hasta salen chispitas… eso es compartirlo todo.
C.R: Aunque llevo menos años en la vida religiosa, he tenido diferentes experiencias de vida comunitaria. Desde las que no llenan el corazón y no dan vida, hasta las de verdadero encuentro. He tenido la suerte de vivir la comunidad como un don, donde la vida es regalada, donde cada día se nos invita a descubrir la Presencia de quien nos convoca. Esta es la comunidad donde he sido capaz de caminar y hacer caminar, donde he descubierto el verdadero rostro de Dios en mis hermanas.
¿Os afecta el envejecimiento de la vida religiosa? ¿Creéis que hay capacidad para la renovación?
M.J.A: La verdad es que soy consciente de que mi congregación tiene una edad media considerable; pero también he de decir que me considero afortunada ya que en mi comunidad hay hermanas de casi todas las edades.
El envejecimiento afecta si no lo vives como gracia. La sociedad avanza muy de- prisa y también los jóvenes. Nuestras formas son distintas y también lo son nuestras visiones, pero no nos equivoquemos: una hermana mayor puede ser más joven que las jóvenes.
¿Renovación? La renovación vendrá cuando dejemos actuar al Espíritu Santo en nosotras. No se trata de edades, sino de mentalidades y de aceptación de cada una de nuestras etapas.
C.R: Por supuesto que afecta el envejecimiento de la vida religiosa. A veces se puede hacer difícil vivir con muchas hermanas mayores. Pero es igualmente cierto que son ellas las que nos mantienen y sostienen, nos hacen vivo el carisma, nos recuerdan qué es lo que estamos llamadas a vivir…
El que seamos pocas jóvenes, hoy por hoy, a mí no me asusta. Lo que me da miedo es mirar la gran cantidad de edificios, totalmente equipados…. llenos de personas que comparten nuestro trabajo, pero no nuestro carisma y misión. Hablamos mucho de misión compartida pero, ¿misión compartida es compartir solo el trabajo, las responsabilidades… y olvidarnos del Espíritu que anima la misión adoración-liberación? ¿Podemos olvidarnos de la espiritualidad de quien nos convocó y congregó?
Desde vuestro punto de vista ¿se están tomando decisiones acertadas para conectar la vida religiosa con la realidad?
M.J.A: La misión que nosotras desarrollamos nos hace estar bastante conectadas con la realidad. Es verdad que nos preocupa todo lo que ocurre en el mundo y sobre todo a nuestro lado. Es muy importante estar allí donde se nos necesita. Si no estuviéramos conectadas a la misión no tendría sentido nuestro estar junto a la mujer que grita; no sería real… y, pienso, que nuestro ser y estar, es muy real para ellas y para el entorno en el que se mueven.
C.A: Constato que se están haciendo intentos y, algunos bastantes acertados, pero creo firmemente que tenemos que ser más valientes y tomar decisiones más arriesgadas; como por ejemplo dialogar con todas las generaciones, llegar a consensos, ser capaces de hacer relevos generacionales y confiar más en el Espíritu. Él nunca ha dejado de ser y estar con nuevas formas y nuevas maneras...
La opción por las personas que la sociedad excluye configura vuestra vida, ¿por qué?
M.J.A: Mi vida la configura mi seguimiento de Jesús en una misión muy concreta: la mujer que es víctima de cualquier situación de esclavitud, especialmente la mujer víctima de “prostitución y trata”. Jesús también estuvo junto a los excluidos de la sociedad, junto a aquellos que no contaban y eran invisibles a los ojos de todos. Nosotras le seguimos al estilo de Micaela y aceptando el don regalado, nuestro carisma de adorar y liberar.
Como mujer me cuesta mucho aceptar todo aquello que atenta contra nuestra dignidad. Las vidas rotas de tantas mujeres claman continuamente y sus vidas reconstruidas son aliento y libertad. “Solo por una vale la pena tanto esfuerzo” decía nuestra santa.
C.R: A mí, me gusta vivirme y saberme diciéndome: “soy una mujer consagrada al servicio de mujeres explotadas”. Las mujeres somos las olvidadas de la historia, las que no contamos, las que no somos nombradas… Esto se agudiza todavía mucho más si son mujeres en contextos de prostitución. Ellas son las últimas y las grandes olvidadas; son aquellas que usamos y tiramos, el símbolo de nuestra sociedad actual, la sombra de la sociedad que nadie quiere ver, la esquizofrenia de nuestro mundo… pero las preferidas del Padre: “Las prostitutas os precederán en el Reino de los cielos” (Mt 21, 31).
No por ser prostitutas, Jesús les da su Reino, sino porque siendo prostitutas son capaces de olvidarse de ellas mismas, de todo el mal que les rodea y acoger la Buena Nueva; se ponen a los pies de Jesús creen y colaboran con Él.
Para que la vida religiosa recupere su efecto llamada en personas jóvenes tendría que...
M. J.A: Tener comunidades vivas. Algunas de nosotras nos manifestamos cansadas. El cansancio no atrae, la vida y la alegría sí. Tendríamos que salir a la calle, estar donde están los jóvenes, porque sé que ellos no van a venir a donde estamos nosotros. Necesitamos mezclarnos en su ambiente, vivir lo que viven…
Con ello no quiero decir que tengamos que hacer como ellos sino estar con ellos, que es muy distinto. La vida religiosa tendría que morir a ciertas estructuras y dar paso a otras nuevas… tendríamos que romper o desajustar algunos horarios, abrir nuestras puertas para poder compartir.
C.R: Tendríamos que vivir en constante escucha de la Palabra, lo que supone ser más audaz y coherente. Estamos llamadas a donde las personas están, en todos los lugares, en todos los rincones adonde el aliento de Dios llega. No hay fronteras para Dios. Las mujeres nos llaman y reclaman, necesitan aprender a amar gratuitamente.
Nosotras necesitamos ser valientes para romper con estructuras que nos atan, vivir realmente la pobreza, abrir nuestras casas, ceder nuestros espacios, siendo y estando disponibles.
¿Puede una persona joven compartirlo todo con personas de otras edades?
M. J.A: ¿Puede una persona joven compartir con su madre, padre, hermanos, abuelos, tíos y primos? No somos un apéndice de nada, somos igual que otras personas. Es verdad que mi comunidad no es mi familia biológica, pero son con quienes comparto mi vida, cada día. Ese “todo” es relativo, porque tampoco con mi familia biológica lo compartía “todo”, tampoco con todos mis amigos lo compartía todo. Con cada persona tengo una relación distinta. Vamos creando vínculos, poco a poco, y en ese ir creando vínculos es cuando vamos creciendo juntas, cada una es distinta, por eso la esencia de la comunidad es la diversidad.
C.R: Cuando se tiene la capacidad de llegar a lo profundo de cada persona, a lo profundo de cada hermana, de cada mujer, te ayuda a encontrarte contigo misma: los mismos anhelos, los mismos sueños, los mismos desafíos… Cada una en su etapa, en su momento, en sus circunstancias… Pero en lo profundo del ser: Dios.
Qué opinión os merece la interculturalidad, ¿qué experiencia tenéis?
M.J.A: A nosotras la interculturalidad nos viene dada, sin pensarlo. La vivimos sin, apenas, proponérnoslo a causa de la acogida que tenemos en nuestras casas. Yo he llegado a convivir con mujeres de seis nacionalidades distintas. Esto significa ceder espacios, aceptar cambios… es complicado, no es sencillo.
Aparte del reto que esto puede suponer, también nos encontramos con verdaderas fronteras culturales difíciles de entender. Esto referido a nacionalidades, pero la interculturalidad también la tenemos dentro de España con las diferentes comunidades que culturalmente son tan distintas. Integrar todo es un trabajo laborioso donde todas ganamos y ninguna pierde.
C.R: En mi casa, en ocasiones, vivimos con mujeres de otras nacionalidades, culturas o religiones… y, aunque es cierto que hacemos intentos por acercarnos, eso de perder lo tuyo para aceptar lo positivo, lo de otro no siempre es fácil. Pero, desde luego “con” y “por” las mujeres se consigue.
Por otro lado, si en una comunidad son todas ellas españolas... puede suponer un problema… solo basta ver las caras ante comidas cocinadas de otra manera, las mismas palabras con otros significados, tantas costumbres y tan diferentes….
Para concluir: ¿qué significa para vosotras ser religiosas en un cambio de época?
M.J.A: Es dar testimonio, un compromiso y una coherencia de vida hasta el extremo. Ante la incomprensión de mis conocidos yo sonrío.
En estos momentos significa que tengo que arriesgar, que no me puedo quedar estancada en el sistema. Dicen que estamos en un cambio, pues yo también debo cambiar con el mundo. Debemos estar preparadas para cualquier acontecimiento, con los ojos abiertos a las nuevas necesidades que las mujeres nos van a ir presentando (y que ya están aquí). No podemos pararnos, pues el mundo no se para y nosotras estamos en el mundo.
C.R: Ser religiosa adoratriz para mí es mostrar el rostro de Dios Padre Misericordia y Dios Madre de Ternura; ser el Rostro de Dios Hijo que clama en la mujer en prostitución y Dios Espíritu que siempre está buscando nuevos cauces de liberación.
fonte: http://www.vidareligiosa.es/index.php?option=com_content&view=article&id=788:mirada-con-lupa&catid=8:entrevistas&Itemid=12

segunda-feira, 7 de abril de 2014

El centro de la vida religiosa

Escrito por Luis A. Gonzalo Díez. 
Fonte: http://www.vidareligiosa.es
La vida con centro
Hay un religioso de edad que se toma muy en serio colaborar con nuestra revista. Tiene la jornada bien ocupada. Dedica buenas horas a echar una mano en la misión con sus hermanos más jóvenes y además encuentra tiempo para orar por la misión y el mundo que, como bien dice, “tanto ama Dios”. Tiene este hermano una vida serena, equilibrada y feliz. Está ocupado en las necesidades de los demás porque sufre cuando percibe privaciones, carencias e injusticias… y en este tiempo son muchas. Sabe ponerle nombre a la crisis, porque sus amigos preferidos son pobres… esa es su fuerza. Tuvo en sus tiempos jóvenes muchas y variadas responsabilidades en la comunidad y en la congregación. No los echa de menos, porque hoy sigue teniendo la vida llena, plena. Ha entendido que la vida no son los cargos, sino ser fiel al encargo de Dios… y ese no desaparece al cumplir años.
Conocimiento de la realidad: visión esperanzada del presente
Hoy me ha escrito. Como siempre ofreciendo visión serena. Me aporta una buena relectura de todo lo que se escribe sobre la vida religiosa, que no es poco. Conoce bien nuestra vieja Europa, pero también América Latina y un poco menos Asia y África, pero poco menos. Es un religioso formado, como tantos, y es capaz de comprender que lo que pasa aquí es fiel reflejo de lo que acurre allá y, a la vez, es muy diferente. Es un exponente de esa lectura posmoderna de la realidad, con el poso de haber trabajado la Suma Teológica y la historia de la filosofía de Nicola Abbagnano. Nunca he percibido en sus palabras y actitudes una mínima sombra de nostalgia. Es inteligente y sabe que ni nuestro decrecimiento actual, ni el sorprendente crecimiento de hace unos años, del que depende el momento presente, son cifras serenas. Son datos afectados por realidades sociológicas que todavía no hemos sabido integrar, ni interpretar convenientemente.
Siempre tiene algún relato positivo sobre alguno de los religiosos más jóvenes. Admira cómo trabajan, con la solvencia con que responden y, sobre todo, con la sinceridad con que refieren las cosas de Dios en la propia vida. Vamos que a mi colaborador anónimo de vida religiosa, le sorprende la sinceridad que edades más jóvenes tienen a la hora de hablar de sus logros y debilidades; de sus penas y fracasos… Dice él, con cierta gracia, “¡y yo que me formé pensando que lo bueno era callarlo, silenciarlo… para endurecerme y así ser más fuerte y mejor misionero!”. Sí, ante todo, mi amigo está contento con la edad que tiene, con lo que vivió y, me atrevería a decir, con lo que le queda por vivir… mucho o poco. Y eso se nota.
Acompañamiento de la vida religiosa en esta era
Cuando me hice cargo de la revista me dijo sólo tres cosas, y hoy me parecen especialmente útiles.
La primera que sopesase bien qué publicaba. Decía él, «piensa que asumes esta responsabilidad en un momento en el que la vida religiosa está viviendo un cambio de ubicación. Por eso procura siempre alguien que suavice la tensión, aligere la carga y proporcione esperanza. No te estoy sugiriendo que mientas, eso nunca, pero procura incidir más en las posibilidades que en las debilidades». Me reiteró aquello de los profetas de esperanza frente a los agoreros de calamidades del Papa Juan. Y me lo ilustraba con una larga lista de ejemplos de una cierta tentación maniquea que nos ha acompañado a la Iglesia desde tiempos inveterados.
La segunda, que nunca escribiese sin tener presente que lo leería alguien que piensa, siente y necesita. Que no hay textos asépticos, válidos para cualquier tiempo y circunstancia, sino que deben contener vida que se da y recibe, deben ser textos en relación, porque ésta en su expresión más clara Dios/persona, es el fundamento de la teología. Sus palabras resuenan siempre en mí, sobre todo cuando, en determinadas circunstancias te preguntas qué es lo que procede, cuál es la visión de la publicación o si es oportuno terciar en determinadas polémicas con la palabra o el silencio.
Me dijo una tercera cosa. Sencilla, muy concreta, la expresó más o menos así: “procura no caer en los ismos”. Me sonreí entonces, pero me doy cuenta hoy que es muy sensato. Los «ismos», sean del signo más o menos; sean de apertura o cierre; sean de alabanza o juicio, están siempre equivocados, porque generalizan, cosifican, no describen y, además, engañan. La vida religiosa no puede caer en el pragmatismo, pero debe tener presencias pragmáticas y regirse, en buena medida, por ellas. No puede abogar por el conservadurismo, pero tiene que tener originalidad para cuidar lo que ha sido válido siempre. La vida religiosa no es el adalid frente al hedonismo, porque una estética del culto y la relación es muy propia de la consagración… Y si ya son ismos de mirada desde la ventana, son más peligrosos: “cómo cambiar el corazón de esta sociedad regida por el hedonismo, pansexualismo, efectismo, individualismo, posibilismo…se preguntaba un religioso, no precisamente caracterizado por su capacidad para la comunión y la gratuidad”. Dice mi viejo amigo que, quien así habla, no tiene carisma para cambiar nada, tampoco a sí mismo. 
 Nuestra razón de ser
Ofrecer lo que creemos
Mi amigo, que tiene varios lustros más que yo, me indicó, sin pretender enseñar, que un rasgo esencial de la vida religiosa es la inculturación. El vivir al ritmo de la época. Que la inducción hacia la trascendencia en cada contexto sólo se da cuando hay personas que la hacen posible y creen en ella. Hace unos meses aludiendo al Año de la fe, decía sencillamente: “lo que hace falta es personas que, en verdad, crean”, lo hacía comentando determinadas terapias-espectáculo con las que pretendemos comunicar qué significa creer a base de fuerza y número. Él, formado en la escolástica, resulta que es un ejemplo claro de que la evangelización crece en el diálogo y la aceptación del lugar donde está la persona. Así, no vive la pluralidad como peligro, ni la interculturalidad como contaminación. Así, reitera que la vida religiosa es la palabra ágil de la Iglesia para este tiempo, porque curiosamente, es la única forma de vida que puede rehacerse desde lo que Dios está sugiriendo para hacerse comprensible para esta época.
Comprender lo que vivimos
La mayor parte de las cosas que se escriben sobre la vida religiosa le resultan útiles. También en esto es rara avis porque no tiene otro tipo de pretensión respecto a la verdad, sólo admirarla. Él es de los que da ejemplo en el siempre aprender. No tiene tanto prejuicio como para situar autores en el índice de lo prohibido. Una mañana que pasó a saludarme, me comentó: “te das cuenta de la riqueza que supone la información”. Y me relató varios acontecimientos ocurridos a miles de kilómetros que supondrían un cambio muy significativo en la humanidad. Aquel día habían confluido una manifestación en Buenos Aires, un encierro en Sudáfrica, la construcción de un gigantesco puente en Australia y un acto académico en Paris… Conocerlo todo y quedarse con lo bueno, «es una oportunidad para quien, enamorado del evangelio, lea la vida y la historia, como historia de Salvación», suele repetir. No le gustan determinados editoriales de los periódicos porque sostiene que la ideología es enemiga de la verdad. Por eso su editorial diario lo hace de distintas publicaciones. Es un ejercicio sencillo, casi matemático suele ejemplificar, «si quitas todo lo que va contra, sueles encontrar todo lo que, de verdad es». También sobre este asunto de las ideologías tiene sus enseñanzas, en lo que se refiere a la Iglesia. Este tiempo necesita personas con horizontes amplios en los cuales sólo se busque a un Dios que se ha empeñado en hacer camino con la humanidad. Filosóficamente es un tiempo muy rico, dice mi anciano amigo, -el quiere que lo llame viejo-, porque es más real y que, «como los polos opuestos se atraen, está encantado con este tiempo porque es nuevo y se encuentra a gusto en él». En esto también rompe el molde, al menos a mí me lo parece, cuando sin forzar el discurso es capaz de encontrar aspectos muy positivos en el tono y el fondo de la juventud. Por ejemplo, dice él, que le gusta encontrar y ver a los jóvenes en sus ámbitos y no tanto en los que nosotros les proporcionamos. En estos últimos, afirma, hacen y dicen lo que a nosotros nos gusta oír, no tanto lo que, de verdad, circula por sus venas y, claro, así nunca llegamos a tener noticia real de cómo es en realidad la juventud. Por eso aplaude cuando ve presencias arriesgadas de la vida religiosa en espacios conquistados por los jóvenes… Dice, con gracia, que la cuestión no es adoctrinar, sino entender. Y hoy, desgraciadamente, estamos confundiendo la pastoral de juventud con adoctrinamiento, aunque no se entienda nada.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Grande en lo pequeño

Escrito por José Moreno. 
fonte: http://www.vidareligiosa.es

“Dios o el dinero…”

Hoy he tenido que ir a bancos y manejar cuestiones de dinero. En la fila, frente a la ventanilla, me precedía un padre joven –vestido muy sencillo- que durante todo el tiempo ha tenido a su pequeño hijo en cabrito, sobre sus hombros; el niño se sentía sin duda el más grande y seguro de todos los que estábamos allí. En ese momento me surgía una oración sencilla: “Padre, te revelas para mí en cada detalle…hoy en la fila ante la ventanilla del banco, te haces grande en el más pequeño y padre en el más sencillo. Y yo me siento más seducido por ti que por el dinero”. Recordaba el evangelio del próximo Domingo y lo unía al tema del decrecimiento con el que estamos trabajando con los universitarios, y del que da cuenta un monográfico de “Imágenes de la Fe” (PPC) que se publicó en Diciembre pasado.
“Decrecer para crecer” es un lema alternativo que para los cristianos hunde sus raíces en la estructura fundante de la construcción del Reino de Jesús de Nazaret. Las claves cristológicas de encarnación, pasión y resurrección son pilares de un modo de entender la existencia que nos invita a revisar la cultura que ha fomentado un bienestar cuestionando el bien ser, y a presentar alternativas que no van por la producción sin más, ni por el tener por tener, sino más bien por recuperar fuentes de vida que se asientan en la centralidad de lo humano y en la riqueza de la interioridad que sabe “tener menos para vivir y ser más”, creyendo que hay una pobreza liberadora que enriquece, la que pone a Dios y su amor por encima del dinero y la riqueza. La situación actual de nuestras sociedades en crisis está siendo un aldabonazo en la conciencia personal y colectiva para recuperar lo más genuino de lo humano y de la utopía de la fraternidad. Hoy se nos está pidiendo “saber perder para ganar, arriesgar para vivir, darse para ser, empobrecernos para enriquecernos”. Las personas tocadas por el Reino tienen labor seria por la demanda de lo que llevan como tesoro en vasijas de barro. No podemos permanecer dormidos cuando la necesidad de Reino es tan acuciante: “Venga a nosotros tu Reino”.
Estamos llamados a una pastoral que vibre con las inquietudes y necesidades que el mundo se está planteando –como está pidiendo el Papa Francisco-, y que las personas y colectivos más concienciados están ofreciendo como caminos alternativos y fecundos. Se trata de sumarse en la perspectiva paulina de la propiciación de los sentimientos de Cristo como fuente de vida para el mundo actual y colaborar en “el lío de la misericordia activa” que el Papa está proponiendo continuamente, con la clave cristológica: “Cristo, siendo rico, se hizo pobre para enriquecernos con su pobreza” (2 Cor 8,9). Este es el lema que nos propone para esta cuaresma que comenzamos; no hay duda que la alternativa “Dios o el dinero” es de gran actualidad. El evangelio, como camino de alegría y felicidad, nos propone la generosidad –elegir a Dios- frente a la seguridad engañosa del dinero.
El evangelio, en la alternativa “Dios o el dinero”, nos propone vencer la tentación de la posesión como elemento de seguridad; esta opción es condición básica para poder vivir lo comunitario y ser comprometidos. Para Jesús estaba claro cuando proclamaba que no sólo de pan vive el hombre sino de toda palabra que sale de la boca de Dios”. La seguridad del dinero, la seguridad del trabajo, de las notas y el currículum (“Di que estas piedras se conviertan en pan”- Mt 4,3), pueden matar la auténtica vocación y grandeza de una persona, y llevarse así lo mejor de sus sueños, en especial la dimensión comunitaria, fraterna y la capacidad de compromiso; por eso Jesús invita a atesorar tesoros en el cielo, donde ni la polilla ni la carcoma los corroen…no nos vaya a pasar como aquél de la parábola que se pasó toda la vida almacenando y cuando creía que ya tenía lo suficiente, aquella misma noche se tuvo que ir para siempre, y no pudo llevarse nada porque todo lo que tenía era externo, donde la polilla y la carcoma sí corroen. El que es así se empobrece, pierde toda la vida que hay a su alrededor e incluso llega a ver a sus vecinos y hermanos como competidores…hay hermanos que no se hablan (están muertos) por algo de dinero de una pequeña herencia.
La generosidad, como clave de vida, enriquece y lleva a la plenitud del gozo a los que la adoptan y vertebran su existencia con ella. Hay un modo de ser, estudiar, trabajar…según Dios y aquí está la clave fundamental, la gratuidad que genera el verdadero amor: “Ha echado lo que tenía para vivir” (Mc 12,44).