O primeiro chamado que recebemos
de Deus é o chamado à vida. Conforme o profeta Jeremias: “Antes
de formar você no ventre de
sua mãe, eu o conheci; antes que você fosse dado à luz, eu o consagrei,
para fazer de você profeta
das nações (cf. Jr 1,5s).”

No terceiro domingo do mês de
agosto, a Igreja celebra o Dia do Religioso e da Religiosa, o dia da Vida
Consagrada. Esta é um dom de Deus para a Igreja e para a Humanidade. Consagrado
quer dizer escolhido por Deus para pertencê-Lo totalmente e para ser
instrumento de sua particular presença de Amor no mundo. É uma vocação que se
realiza por obra do Espírito Santo, no seguimento radical de Cristo casto, pobre
e obediente.
A vida religiosa consagrada é um dom
do Espírito Santo, sendo, no mundo atual, um sinal de profecia. São homens e
mulheres que, livre e espontaneamente, decidiram consagrar-se a Deus para estar
no mundo. E é através da sua consagração religiosa que realizam a missão de
anunciar a Boa Nova de Jesus Cristo, vivendo em fraternidade dentro do carisma
específico. Portanto, se falamos que Deus é Amor, então somente Ele basta em
nossa vida.
Toda vocação é um chamado que vem
de Deus e, ao dar a resposta, todo vocacionado torna-se impregnado de
responsabilidade para com Deus, pois foi Ele quem o chamou e o consagrou:
“Antes mesmo de te modelar no ventre materno, eu te conheci; antes que saísse
do seio, eu te consagrei. Eu te constituí profeta para as nações (cf: Jr 1,4-5)”.
Somos conclamados a proclamar os
altos feitos do Senhor, segundo São Pedro (cf: 1Pd 2,9). Desse modo,
compreendemo-nos “co-herdeiros de Cristo” e, portanto, consagrados,
participantes por excelência não apenas dos seus sofrimentos, mas também da sua
glória (cf: Rm 8,16 -17). Tal consagração não é senão pela verdade, que é a
Palavra de Deus.
O vocacionado consagra-se a Deus
e Ele joga o consagrado no mundo: “Eles não pertencem ao mundo, como eu não
pertenço ao mundo. Consagra-os
com a verdade: a verdade é a tua palavra. Assim como tu me enviaste
ao mundo, eu também os envio ao mundo.
Em favor deles eu me consagro a fim
de que também eles sejam consagrados
com a verdade (cf: Jo 17,16 -18).” Estando no mundo sem ser do
mundo, mas enviados a ele para, assim como Jesus, fazer brilhar a glória dos
grandes feitos de Deus.
Há homens e mulheres na vida
religiosa. Os homens podem ser clérigos ou irmãos. Assim, pode-se muito bem ser
um consagrado sem ser um ministro ordenado. Há de se considerar que o ideal é
voltar às origens, quando a vida religiosa nasceu leiga, tornando-se clérigo só
em um segundo momento, no início da vida religiosa em que o profetismo tenha
prevalência. E nisso, o religioso irmão e a religiosa podem ser profetas na
Igreja hierarquizada.
O Concílio Vaticano II, no
Decreto sobre a renovação da vida religiosa Perfectae
caritatis, número 10, afirma: “A vida religiosa leiga, tanto masculina como
feminina, constitui por si mesma um estado pleno de profissão dos conselhos
evangélicos, confirmando tais religiosos em sua vocação e exortando-os a
adaptarem as suas vidas às exigências atuais devido à importância maior que
possuem para o ministério pastoral da Igreja.” Portanto, o Concílio reconhece a
importância desta vocação no meio social e no mundo. A Lumen Gentium (43,44)
segue o mesmo exemplo e defende: “pela constituição hierárquica da Igreja, esse
estado de vida não é intermediário entre a condição dos clérigos e dos leigos e
sim um dom peculiar na vida da Igreja e faz parte, indubitavelmente, de sua
vida e de sua santidade”.
Como imitadores e seguidores de
Cristo, exercem o sacerdócio comum pelo múnus apostólico adquirido no sacramento
do Batismo e confirmado nos demais sacramentos que conferem a graça de serem
sacerdotes, pastores e reis, fazendo parte do sacerdócio real de Cristo. São,
portanto, habilitados a colaborar de perto com a Igreja particular, cooperando
com o bispo diocesano no seu ministério pastoral, pois vivem a consagração
“mais íntima”, radicados no Batismo e dedicados totalmente a Deus pela vivência
dos conselhos evangélicos.
Podem, ainda, na vivência de tal
consagração, “colaborar com a gestação de uma nova geração de cristãos
discípulos e missionários de Jesus Cristo e de uma sociedade onde se respeite a
justiça e a dignidade da pessoa humana, fazendo transparecer o rosto materno da
Igreja”, de acordo com o pedido no Documento de Aparecida do Episcopado Latino
Americano e do Caribe.
O religioso e a religiosa são chamados
por Deus e reconhecidos pela Igreja. Portanto, é uma vocação especial plantada
no coração do mundo. Vocação esta que precisa ser regada e cultivada com o
carinho e o respeito devidos.
Que o Senhor conceda um coração
bem aberto a seu Espírito, presente e atuante na história! Que suas
propostas, Senhor, nos encontrem acordados e preparados para seguir seus
caminhos, por mais
desconcertantes que nos possam parecer. Seguir seus caminhos intermanete como
frei, irmão consagrado.
Nossa vocação: responder aos
chamados! Da vida à morte, do hoje ao amanhã... Somos animados e desafiados a
responder, a dizer sim ou não às demandas das fases de nossa existência.
frei mauro alves da rosa, ofmcap.